Brasil se prepara para primeiro lançamento comercial de foguete a partir de Alcântara

Cinco satélites e três experimentos, desenvolvidos por universidades e empresas nacionais e internacionais, estarão a bordo do foguete

Wyss Notícias

11/10/20254 min ler

O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, será palco de um marco histórico para o Programa Espacial Brasileiro: o lançamento do foguete HANBIT-Nano, da empresa sul-coreana Innospace, programado para o dia 22 de novembro. A operação, batizada de Spaceward, é coordenada pela Força Aérea Brasileira (FAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e representa a estreia do Brasil no mercado global de lançamentos comerciais.

De acordo com o Tenente-Brigadeiro do Ar Ricardo Augusto Fonseca Neubert, Diretor-Geral do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), a missão simboliza uma nova fase para o país.

“O lançamento demonstra que o Brasil possui infraestrutura, conhecimento e autonomia para operar em um dos setores mais estratégicos do mundo. É um passo fundamental para consolidar nossa presença no mercado internacional e estimular o desenvolvimento tecnológico nacional”, destacou o oficial.

A confirmação da data ocorreu após a verificação dos sistemas do veículo, análise meteorológica e checagem de segurança. No entanto, eventuais ajustes poderão ser feitos conforme as condições climáticas e operacionais.

Projeto selecionado em edital público da AEB

O lançamento é resultado de um edital público lançado pela AEB em 2020, que visava atrair empresas interessadas em realizar operações comerciais a partir de Alcântara. A Innospace foi uma das companhias selecionadas e, em 2022, firmou contrato com o Comando da Aeronáutica (COMAER) para uso da base maranhense.

O foguete HANBIT-Nano transportará cinco satélites e três experimentos de instituições do Brasil e da Índia, reforçando o caráter internacional da missão.

Satélite educacional leva mensagens de estudantes ao espaço

Entre as cargas, está o PION-BR2 | Cientistas de Alcântara, desenvolvido pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) em parceria com a AEB, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a startup PION. O satélite carrega mensagens escritas por alunos da rede pública local, em um gesto simbólico que busca aproximar as comunidades quilombolas de Alcântara do universo da ciência e tecnologia.

O projeto também permitirá testar módulos e sistemas nacionais de comunicação, energia e controle, fortalecendo a cadeia produtiva espacial brasileira.

“Ver estudantes locais participando diretamente de uma missão espacial é algo histórico e inspirador. Ciência, cultura e educação estão caminhando juntas neste momento”, afirma Alex Oliveira Barradas Filho, professor da UFMA e vice-coordenador do projeto.

Coleta de dados ambientais e inovação tecnológica

Outro destaque é o satélite Jussara-K, também da UFMA, desenvolvido com apoio de startups nacionais e instituições como a FAPEMA e a Fundação Sousândrade (FSADU). O equipamento foi projetado para monitorar dados ambientais em áreas de difícil acesso, transmitindo informações por meio de Plataformas de Coleta de Dados (PCDs) instaladas em pontos estratégicos.

“Integrar um satélite de alta complexidade em uma missão desse porte é um desafio e, ao mesmo tempo, um motivo de orgulho para toda a comunidade acadêmica e científica envolvida”, comenta o professor Carlos Brito, coordenador do projeto.

Avanços na comunicação e autonomia tecnológica

A missão também transportará os satélites FloripaSat-2A e FloripaSat-2B, criados pelo SpaceLab da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ambos têm como objetivo validar tecnologias nacionais de comunicação e controle, consolidando a plataforma FloripaSat-2 para futuras missões.

O FloripaSat-2B, integralmente projetado e produzido no Brasil, incorpora antenas e painéis solares nacionais.

“Esses satélites simbolizam o amadurecimento tecnológico e educacional do país. Toda a integração foi realizada por estudantes e pesquisadores, o que reforça o potencial de inovação das universidades brasileiras”, explica Eduardo Bezerra, coordenador do SpaceLab/UFSC.

Sistema nacional de navegação inercial

Entre as cargas tecnológicas, destaca-se o Sistema de Navegação Inercial (SNI), desenvolvido por meio de uma encomenda tecnológica da AEB em parceria com as empresas Concert Space, Cron e Horuseye Tech. O equipamento, essencial para o controle de voo, será testado em condições reais, com o objetivo de qualificar o produto para uso comercial e em outras aplicações, como drones, veículos marítimos e sistemas de IoT.

“Essa operação permitirá validar uma tecnologia estratégica e abrir novas possibilidades para a indústria espacial brasileira”, explica Rafael Mordente, CEO da Concert Space.

Equipamentos nacionais de alta precisão

A Castro Leite Consultoria (CLC) também participa da missão com dois equipamentos embarcados, entre eles o PINA-FD, sistema de navegação de alta precisão desenvolvido para avaliação em voo suborbital. O objetivo é validar algoritmos de navegação autônoma e assistida por GNSS (Global Navigation Satellite System).

“Participar dessa operação é mais do que um teste tecnológico: é uma demonstração da capacidade da indústria nacional de competir em um cenário espacial de alto nível”, afirma Waldemar de Castro Leite Filho, sócio-diretor da CLC.

Cooperação internacional e observação solar

Completando a carga útil, o módulo Solaras-S2, desenvolvido pela empresa indiana Grahaa Space, tem como meta monitorar a atividade solar e seus impactos sobre sistemas de comunicação e navegação na Terra. O experimento reforça a cooperação entre Brasil e Índia em missões espaciais de pequeno porte.

Um novo capítulo para o Programa Espacial Brasileiro

A Operação Spaceward simboliza o amadurecimento da infraestrutura e da capacidade técnica do Brasil no setor espacial. Com a realização do primeiro lançamento comercial a partir de Alcântara, o país entra definitivamente na rota internacional de lançamentos, ampliando oportunidades de investimento, inovação e geração de conhecimento.

Fonte: Ministério da Defesa, Força Aérea Brasileira (FAB) e Agência Espacial Brasileira (AEB)